segunda-feira, 15 de setembro de 2008

POESIA–II
X A D R E Z
Às vezes entretenho-me a sentir cada palavra minha transformar-se em tantas quantas as pessoas me escutam. As palavras multiplicam-se, irradiam, ficam-lhes no espírito como esses pássaros que, entrando em nossas casas, se debatem horas infinitas contra os vidros. É então que, com frequência, me apetece abrir o peito, expor todas as vísceras, os órgãos sobre os quais a luz do coração incide, e que, se acaso o sol me sobe na consciência, sinto os dedos regressarem lentamente às mãos. Trazem então consigo uma vontade imensa de jogar, de abrir de novo as vísceras, mostrar por dentro do corpo, esse magnífico xadrez de que o trabalho dos meus órgãos equivale à sucessão dos lances.

in POESIA COMPLETA, de Luís Miguel Nava

Nenhum comentário: